sábado, fevereiro 22, 2014

Eu quis


Eu quis ser
            A pedra de Gênesis
Eu quis
            Kiss o decote de Marilyn Monroe
Eu quis
            Gargarejar as cataratas do Iguaçu
Eu quis
           Contravenções com Robin Wood
Eu quis
            ir pro fundo do oceano
            Mas meu pensamento é mais profundo
Eu quis
            ser a declaração do Romeu à Julieta
Eu quis
           a angústia de Hamlet
Eu quis
           a adrenalina de Johnny aos 16
Eu quis a aurora boreal
                        no Ganges e no Indo
Eu quis ser o blue Bird
                        do Bukowski
Eu quis ser o cartucho na tinta
            atirado por W. Burroughs
Eu quis ser o Walden e ter pouco
Eu quis pegar carona
On the Road
Eu kiss o sal da revolução
                        de Gandhi

Eu quis Sherazade e toda sua tensão
            ao fim da noite
e todo o tesão do rei
            na lâmina de sua espada

Eu quis as primeiras pedaladas
                                               de todas as crianças
Eu quis as nuvens
                        e seus desenhos proféticos

Eu quis louvar as águas que banharam o meu corpo
                                   e ainda existem

Eu quis a lealdade e o instinto
                                   de Bucéfalo
Eu quis o leãozinho
                                   caminhando sob o sol
Eu quis caminhar milhas e milhas
                        em silêncio
                                   ao lado de Bach
Eu quis soltar pipa com o menino             
                                               Mozart

Eu quis adoçar a cicuta
                                   de Sócrates
                                   com o Raindrop  de Chopin

Eu quis estar em Compenhagen
                        com Kierkegaard

Eu quis beber do leite
                        entregue pelo leiteiro Drummondniano

Eu quis
na Praça da República
ouvir o Castro Alves recitar
                        Navio Negreiro

Eu quis a febre
de Rimbaud
a Turim
 de Nietzsche
o Castelo
 de Kafka
Uma chuva de bolha de sabão

Morar num quadro de Rembrant
                        O Filósofo

Aventurar-me numa tempestade
                        de William Turner

Beber no café de Eward Hopper
                        com os solitários

Escutar O Grito
de Munch
Passear pelo Jardim das Delícias
                                   de Bosch

e ver de perto uma menina e seu copo
                                   de Renoir

eu quis as serpentes da medusa
e olhá-la
            e tornar-me uma Drusa
                                               de Ametista
eu quis a sede
            no Saara
porque  a sede é
                        necessária
assim como
            é necessário o calor dos corpos
porque se não fosse
quente
            não seria
corpo
só é corpo
 porque é quente

eu quis errar o enigma
                                   da Esfinge
evitar o Tabu
                        de Édipo
eu quis cortar o novelo
                        de Perseu
            salvar o Minotauro
e poupar Atlas do peso
                                   do mundo

eu quis realizar o Sonho de Ícaro
arrancar a primeira estaca
            da propriedade privada
morder as maças
 reprimidas
fugir do mar
            vermelho se fechando

eu quis entender as pedras
            no bolso de Virginia Woolf

eu quis orbitar em 2001
                        e usar a primeira ferramenta
                        primata
Eu quis unir
Woody Allen              Kubrick
            Herzog                                   Bergman
                        Tarkovsky                  Almódovar
            Lynch                         Chaplin
            e          Glauber Rocha                      
                                               e ver um filme
No blind

Todas as lembranças comprimidas

Cabendo em um só pensamento...

Como...

Eu vivi, eu tentei, eu quis...

Eu aceitei, eu traguei a vida

Na maioria das lembranças meu peito está escancarado

As lágrimas sobrevoam além das nuvens

E num prisma inesperado colorem meu horizonte infantil

Na profundidade do olhar que parece não focar nada


A textura da minha pele vai mapeando o tempo

Se o meu rosto não é tão suave, as lembranças são ainda mais leves

Se a barba enrosca atrevida nas unhas, não posso acordar tarde

Retenho-me à quietude do despertar, onde por um segundo não sei de nada

E é tão saboroso este breve instante - tão resplandecido de naturalidade

Nem a gravidade é notada, o espreguiçar esboça um voo, que logo se vê que é tolo


Cerro os punhos, concentro a força na mão contraída - sinto o ânimo

A pele recorre ao sangue que percorre os estreitos caminhos da carne

A carne que estremece, que obedece até a mais tola das emoções

Sobretudo, as emoções atemporais

Que não tem validade nem morre no cais


Sobrevive às tempestades e às bússolas quebradas

terça-feira, janeiro 03, 2012

poderia escrever um livro com páginas de mel, letras de açúcar mascavo, dobraduras de leite condensado e capa de chocolate puro cacau
seria um sucesso, propaganda no horário nobre do Jornal Nacional, fábricas e editoras não dariam conta de  mil edições em um ano
as crianças, ah... as crianças leriam mais que qualquer adulto - e teria tanto adulto lembrando-se que é criança
saladas de frutas acompanhando a leitura, jazz bebop ecoando no sarau, nos sebos e nos recitais, sons e cores no alaúde, banjo, berimbau, xilofone, acordeon, cítara, agogô, afoxé, castanhola, reco-reco, tantã, atabaque, surdo, xequerê e um berrante costurando a silhueta melodiosa do saboroso livro que reverbera poesia e prosa, história e estória, conto e cordel, sagas e mitologias, curiosidade, cotidiano, ecologia, folclore, cultura popular da idade média, alta, baixa, brasilidade, universalidade, africanidade, humanidade

alguém depois de ler e se lambuzar, iria dizer: ainda bem que acabou a censura

seria este o best-seller?

-- http://www.radio.uol.com.br/musica/john-coltrane/naima/225103 --

sábado, outubro 01, 2011

no blind no

Todas as lembranças comprimidas

Cabendo em um só pensamento...

Como...

Eu vivi, eu tentei, eu quis...

Eu aceitei, eu traguei a vida

Na maioria das lembranças meu peito está escancarado

As lágrimas sobrevoam além das nuvens

E num prisma inesperado colorem meu horizonte infantil

Na profundidade do olhar que parece não focar nada

A textura da minha pele vai mapeando o tempo

Se o meu rosto não é tão suave, as lembranças são ainda mais leves

Se a barba enrosca atrevida nas unhas, não posso acordar tarde

Retenho-me à quietude do despertar, onde por um segundo não sei de nada

E é tão saboroso este breve instante - tão resplandecido de naturalidade

Nem a gravidade é notada, o espreguiçar esboça um voo, que logo se vê que é tolo

Cerro os punhos, concentro a força na mão contraída - sinto o ânimo

A pele recorre ao sangue que percorre os estreitos caminhos da carne

A carne que estremece, que obedece até a mais tola das emoções

Sobretudo, as emoções atemporais

Que não tem validade nem morre no cais

Sobrevive às tempestades e às bússolas quebradas

quinta-feira, julho 14, 2011

Requiem para o presente


''Fruto do mundo
somos os homens
pequenos girassois os que mostram a cara
e Enorme as montanhas que não dizem nada.'' Raul Seixas

Requero redigo e repego tudo que é preciso para o mundo ficar mais belo
não podemos perder o elo que une o homem ao universo e à natureza inata de todas as coisas singelas e estantâneas que surgem ao palpitar do coração, ao piscar dos olhos por onde passa alguém com frio querendo um abraço por onde passa o calor forma o laço que baila e rima a conVivênvia sem se render à conveniência que nos abate nos recua e desnuda nossa espontânea vontade de ser e só onde o sol não pede assepsia aos que se banham em sua luz generosa e justa

terça-feira, maio 04, 2010

Um Sorriso


um sorriso
gesto, explosão, fotografia tão simples, singela
devemos cuidar para que não se torne rara
sorriso - sinônimo primaz da criança, da pureza
bela cena para um desfecho no cinema
afeição movida por emoções delicadas, extravagantes
a criança nunca poupa o sorriso e sempre o tem
=) =D ^^
quando acorda, quando brinca a tarde e quando vai dormir
quando a economia vai mal, quando o país perde a copa
quando a corupção escancara as portas, as represas
não é a razão que desenha o sorriso, é o instinto
instinto de estar viva, deslumbramento constante
vendo a chuva como a chance de ver o arco-íris
Sorriso
vitória apesar de qualquer derrota
Sorriso
felicidade apesar dos pesares
Sorriso
paz apesar do desassossego
Sorriso
amor apesar da dor
Sorriso
Vida apesar da morte

quarta-feira, setembro 09, 2009

Pai - alma que minh´alma ama

Pai

Que dia hein? 09 de setembro de 2009....
Mais um 9 de setembro...
Então Pai, setembro anuncia a chegada da primavera...
e mesmo que eu não soubesse seria, pra mim, a chegada da primavera
Você semeou minha vida com minha Mãe, adubou com terno amor sempre
Não se ateve a ser um mero pai, foi um pai-poeta, foi um pai-eureka:
Quando me levou ao mar, não foi apenas para apresentar ao mar apenas
Foi para me dar ciência da essência humana, mensurar a vida, ver o oceano interior
a unicidade das coisas boas, a gota que se torna imensidão e ganha consciência plena
Ao me levar no circo, me proporcionava visões mágicas, tocava meu ombro pra observar algo além -
se preciso até me levantava para ver o que estava por trás e me esbugalhava os olhos...^^
Na saída, ao vermos um palhaço com guarda-chuva cheio de pequenos guarda-chuvas ^^
Disse: Vai, converse com ele... e eu fui - sentindo um palhaço me conduzindo a outro
Pois enches minha vida de cor, minha infância de doces e encantadas descobertas...^^
O primeiro brinquedo, as viagens aventureiras, as madrugadas que acordava cedo pra viajar contigo...ai quão gostoso é...
Das inúmeras vezes que ia para a sub-estação da coelba, e você lá, vendo 'Sem Censura", saboreando inúmeras laranjas .. ora e outra fazia a rotina, colocava as botas, o capacete, ia lá fora, fazer chegagens... ^^ Pequenas coisas - gigantescas lembranças
Testemunhava sua calma, seu ócio criativo, os desenhos de geometria perfeita, circulos dentro de circulos e no fim , davam formas fascinantes aos olhos...^^
Madrugadas que levantava da cama, descia as escadas, ouvia a TV baixinha soar vozes....e lá estava você, assistindo Jô Soares.... ^^ entrava de mansinho, perguntava quem era, depois sentava... fazia outra perguntava, rss, vc dizia: ''perae, quero ouvir aqui...rs''
Já bastava o som da faca descacando a laranja, cortando ao meio, logo depois, ao tirar a faca do corte, conduzia até a boca, e lambia a ''pequena poça'' que ficava na lâmina da faca e passava entre os labios, como a máquina de escrever correndo de um lado ao outro...rsrs...^^
e não deixava uma gota de suco no que restava da laranja ao fim....

Pai, inúmeras são as lembranças, as marcas que ficaram e surgem sempre...
Você é uma virtude em mim!
Você é um exemplo de naturalidade, de encarar a vida com uma sapiência tremenda e ao mesmo tempo com soberbo instinto arcaico, no prazer de trabalhos manuais obsoletos, coletivos, filantrópicos...
Você, em seu ambiente, só de pensar, canalizar energia positiva, exalar amor, já inunda de boa ventura tudo ao redor

Feliz Aniversário, Painho
Abraço eterno
Te amar é realmente viver - pois vejo a unicidade de ver tudo em tudo ^^
Namastê

segunda-feira, maio 18, 2009

pegadas na areia cabana de criança


a saudade das pegadas na areia
do som do teu riso, do teu olhar tentando contemplar o céu e sua esfera
nossas mãos dadas, soltas, entrelaçadas, soltas, beijadas...
a saudade de nossa pressa em abrir o presente um do outro =)
do sono que chegava e você espantava perguntando:
- Amor, qual o sabor você prefere? Da pizza amor?
a saudade das nossas corridas para pegar o ônibus que ia saindo do ponto
não sabíamos se ríamos ou gritávamos: - Motor! Ei! Esperaaaa...!...!...
a saudade do cansaço disperçado depois de sentar na poltrona
olhando árvores distintas, o ocaso que prenunciava mais uma noite a vir
o discreto prazer de colocar a mão pra fora e sentir o vento dançá-la
...
a saudade da saudade breve - minutos esperando você voltar da escola
você chegar suada, lavando o rosto, molhando a sala, deitando na esteira
seu gosto de comer arroz com vinagre e feijão enquanto eu tomava mingau
saudade do seu olhar quando me viu voltar da viagem longa...longa...
da sua feição sorridente ao ver uma criança sorrindo na frente do espelho
do seu olhar triste vendo que a fome regride nossa humanidade na esquina
ah, lembrei...
a saudade do dia que enfeitamos a praça para a festa de são joão
nossos amigos vieram com cartolinas (rsrs), futuras bandeirolas
ficamos cortando no banco da praça - colorindo o chão - parecia piraça para o cinza que mal clareava, exceto quando jogavam pipocas para os pombos
saudade da madrugada de insônia a querer falar de todos os sonhos numa noite
saudade do teu francês diante do meu francêsguês - a bientot mon doux
a chuva nos cortejando a caminho do mar - como foi gostoso - dois molhar =)
do seu carinho ao ajeitar meu travesseiro, beijar minha testa, ver meu bocejo
saudade do carteiro que trazia tua letra, teu cheiro, a impressão da tua alma
tua postura correta quando falavámos de RPG, LER e conteplava a arte Monet
teu dengo quando eu falava do teu encantado olhar, da tua beleza sem par
saudade do teu afago quando eu sentia falta da minha avó, do meu cão, do meu velotró, do meu baú, do jardim de infância, da amada pró, de John Lennon, de Castro Alves, de Raul Seixas & o Cortêz - Capitche!
Saudade dos dois frames que te via levantar com olhos tão doces - queria aquele mirar...
saudade da fogueira na beira do rio, roda de viola, amigos, vinho e você no meu colo - com frio
e dizia: - amor, você está coberto? Esfregava a mão em meu braço, perna, coração =)
te levando no colo para a cabana - seus olhos fechando e abrindo, piscava como as estrelas da madrugada...saudade de nosso sono moldado pela terra
saudade do nosso despertar - brâmido do mar, ventania querendo levar o cobertor. você puxava a coberta, cobria o rosto, depois sorria e me puxava pra cama. Fazia uma "cabana de criança" - levantando as pernas e os braços, pedindo minha ajuda... saudade daquela luz laranja dentro da cabana de criança, dos nossos beijinhos matutinos...
E...
a maior saudade...
a saudade do que virá