Tela
Me pintam sempre
Pintam flor, dor, amor
Sofrimento, céu azul, esplendor
Sob mim registraram uma vila prospera
Que foi sucumbida por um vulcão falido (adormecido)
Só não pintam a paz
Pois ela é alva, límpida como o céu
Eu sozinha, sem tintas, sem pincel
O futuro em traços esquisitos tentaram imprimir
Em moldura moderna me prenderam
Sob olhares nobres me expõem
Em salas de ouro me arrematam
Sinto saudade da minha infância
Num belo jardim, com poucas pinceladas – era feliz
Os pássaros me avistavam ao voar
E faziam seu ninho na arvore que me sombreava
E quando tive o último toque do pincel
Ouvi seu canto triste – mas belo
Hoje estou no museu antigo
Em meio às semelhantes tristes
Mas somos agraciadas pelos olhares de crianças contentes
E comungamos o sonho de voltar ao campo da infância
De retornamos ao primeiro toque do pincel
E avistarmos nossa tela bela
Éder Carneiro Cardoso e Silva