domingo, abril 19, 2009

A fonte



Se descortina diante de nós um horizonte de vileza
um rio transbordante de mágoas, de oléo negro, sem sutileza
fecho os olhos e a ardência é maior do que estar diante de cenários inóspitos
(tosse...)
Não sei como respirar sentindo um cheiro mais azedo que fel, e vendo trasncorrer mel dos meus bolsos cheios de planos azuis
(espirro..)
A poeira que me inunda não sai dos galpões da arte que um dia vi construir com tanto esforço...
sai das mineradoras onde crianças se esfolam arduamente por centavos, por impérios incrédulos
(espanto..)
Como? Como o homem deixou as árvores, raízes que permeavam a terra com tanto esmeiro, sustentando o sulco da vida, a seiva serena do fruto sabor, como deixou elas encolherem, retorcidas, vencidas pelo descalabro tinhoso desse sistema mórfico...
(lágrimas...)
Ao menos uma criança arrasta latas de frutas industrializadas, fantasiando um trem, com vagão dos avós, onde tem balanças, onde tocam flautas para embalar seu cochilo; vagão dos pais, tios, professores, onde tem mesas para jogarem dominó, xadrez e baterem um papo... e o vagão das crianças, onde passeiam cães e gatos, entre bolas, apitos, pirulitos e velotróis....
ao menos ela se açanha quando ver uma música tocar, quando vê um palhaço (descolorido, faminto, maltrapilho) sentado no batente quente da fábrica que tomou o lugar do circo...
(soluços...)
Preciso encontrar a fonte, a fonte onde tudo se inicia, onde posso beber mais do que água fria...
Lá, lá deve ser quentinho, como o ventre da mãe... lá poderei deitar, seguramente não irei tossir, me espantar, chorar nem ter soluços...
(caminho para a fonte...e diante da fonte, encontra um espelho)