Abolição já!
Vamos! Abolir a desigualdade
Vamos! Aderir a liberdade
Vamos! Ser uma irmandade
Nessa era de fúteis regozijos
Vamos! Abolir a Lei Áurea
Não se enganem com o passado
Façam já uma Nova Áurea
Defira a eles o que é direito
Torne o Brasil uma Nova África
Faça luzir a amplitude impávida dos pilares deste chão lavrado
Pelo suor e pelo sangue dos heróis do Novo Mundo
Vamos! Não queiram que as gerações vindouras - seus netos - esqueçam
Desse valor, pois o tempo distorce o decreto da Era imperial
Vamos! Instituir já esta Áurea Nova, Completa!
Em prol dos futuros homens desta terra
Vamos! Não nos fitemos com memorandos de redenção
Exerçamos em hora os ideais de uma nação constituída de raças
Que se sobrepõem colocando-se lado a lado
Um Condor passava sobre o mar negreiro e adentrou ao navio insóbrio
Saiu antes de esmorecer pelo horripilo espírito que jaz ia resplandecer
Contudo, carregou a tocha aclamante da liberdade para clarear o pesadelo
Visto pelos homens que enxergara um “sonho” com tamanha insanidade
Repudiando a lucidez ao consentir com a barbárie
Vamos! Ainda estamos inertes, dormindo na lama da vaidade
Nossa pupila ainda enxerga pobreza e inferioridade
Naqueles que a natureza deu vigor e humildade
Oh! Ainda se vê acepção, ainda se fala em superioridade
O Sermão da Montanha deveria ser atualidade
Vamos! Tenhamos consciência do sangue que jorra
Na veia dos descendentes
Este sangue traz aos seus corações as lamúrias
Ecoantes dos que gastaram a vida nas senzalas, nos açoites
Não basta se redimir, dar menções honrosas, além disso, e principalmente,
Dê-lhes seu coração, lugar na sua alma...
Até que um dia não se falará mais nisso
Não se verá mais soluços e vestígios de dor
Nem pautará as leis para este dispor
Haverá tamanha comunhão
Em um estado de igual magnitude e tão comum equanimidade
Que as memórias até então imemoráveis serão transladadas
Ficará a singela afeição pelos lírios dos vales que o fizeram
Lembrar que houve espíritos nobres que inundaram a terra
Com amor sem cessar
Homens audazes, que plantaram clamores e colheram fervores
Da nação almejada
E ver-se-á um Condor voar para os Andes
E ali fitará o mar onipotente, límpido
Coberto de um manto alvo - mais que a neve - que ele tecera
Um poeta será homenageado sempre
Com tanta avidez e espiritualidade
Que o pulsar do coração rimará:
Castro Alves
Éder Carneiro Cardoso e Silva